Paulo Rogério Nunes: “Dedicar meu tempo às causas que acredito”

O publicitário traçou um caminho de muitas conquistas antes de completar 40 anos. Dialogou sobre investimento em lideranças jovens com Barack Obama; com apoio de colegas fundou o Instituto Mídia Étnica; compõe a equipe da potente Vale do Dendê; e agora foi indicado ao MIPAD, que premia os afrodescendentes mais influentes do mundo. 

Midiã Noelle | A Lista Negra
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Paulo é conhecido pela mente inovadora. Foto: Divulgação

Publicitário, empresário e 38 anos de vida repleta de uma efervescência de ideias e projetos colocados em prática. Esse é uma breve descrição sobre o baiano Paulo Rogério Nunes, que além de tudo isto, é reconhecido pelas pessoas ao seu redor pelo seu bom humor e respeito às individualidades e capacidades de cada pessoa. Recentemente, aproveitando o combustível criativo da Bahia, criou a holding sociaVale do Dendê ao lado de figuras importantes como o professor Hélio Santos, a produtora cultural Ítala Herta e do jornalista Rosenildo Ferreira.

O jogo de palavras remete ao Vale do Silício, centro de produção de empresas na área de tecnologia e inovação, localizado na Califórnia, desde a segunda Guerra Mundial. Com o lema “Salvador: Capital da Inovação”, o Vale do Dendê surgiu em 2016 e funciona desde 2017 como uma aceleradora de startups, desdobrando-se ainda em outros projetos e ações.

Mas esse é apenas mais um passo na trajetória empreendedora de Rogério. Ele, ao lado de outros comunicadores, fundou Instituto Mídia Étnica (IME), investindo no acesso à ferramentas de comunicação e tecnológicas para atender a comunidade afrobrasileira e outros grupos socialmente excluídos. A iniciativa abriga atualmente projetos como Ujamma Coworking, Correio Nagô e Ocupação Afrofuturista.

Em conversa com Obama, Paulo destacou questões sobre desigualdades sociais enfrentadas pela população negra no Brasil na mídia, na economia, na política e na segurança pública. Foto: Obama Fundation/Reprodução

Da periferia soteropolitana, mais precisamente o bairro suburbano Alto da Terezinha, Paulo Rogério conquistou o reconhecimento em nível global. Não apenas de Barack Obama, ex-presidente dos Estados Unidos, com quem se reuniu em 2017 – junto a outros nove jovens – para discutir ações de fomento e investimento em novas lideranças. Neste ano, as ações desenvolvidas por Paulo por meio de premiação no MIPAD (Most Influential People of Africa Descent). Ele foi escolhido neste edição como uma das 100 pessoas negras mais influentes no mundo. Quer saber mais? Confira o nosso bate-papo abaixo: 


Lista Negra: Do Alto da Terezinha, subúrbio de Salvador (BA), para o MIPAD, em Los Angeles. Quais as estratégias utilizadas por você para trilhar o seu caminho de sucesso e reconhecimento em nível global?

Paulo Rogério: De verdade, nunca tive uma estratégia específica para o reconhecimento. As coisas foram fluindo naturalmente conforme o processo. É claro que no meio do caminho teve muita dedicação e foco. Eu sempre tive essa vontade de dedicar meu tempo às causas que acredito e a resolver os problemas da forma que também creio. Por isso em alguns momentos tive que sair de empregos formais para me dedicar integralmente a projetos pessoais, envolvendo projetos e empresas que eu criei antes, mais voltadas para as questão da militância, cursos de informática, gráfica rápida no bairro onde cresci. Depois, desde 2005, tenho me dedicado ao social, tentando trazer alguns elementos do mundo dos negócios para o campo de resolução. São propostas como o Instituto Mídia Étnica, o portal Correio Nagô e agora o Vale do Dendê. Tal isso tenha desencadeado esse reconhecimento, mas ainda há muito trilhar e meu objetivo é continuar.

“Manter-me focado ajudou a materializar minhas ideias”.

LN: Instituto Mídia Étnica, Correio Nagô, Vale do Dendê, Ujamma Corworking, Ocupação Afrofuturista. Você é idealizador ou está envolvido com a criação destes projetos e empreendimentos citados. O que é preciso ser feito para que, assim como você, as pessoas tirem seus projetos do papel e os façam acontecer?

Paulo Rogério: Manter-me focado ajudou a materializar minhas ideias, então eu aposto nesse ponto. Ter um objetivo nítido é fundamental para materializar o que sonhamos. Muita gente tem sonhos, mas não tem foco, ainda mais numa época como a que vivemos, com a internet e tantos estímulos sociais. Também ter uma missão pessoal muito nítida. Muitas vezes as pessoas ficam perdidas entre trabalhar para alguém, entre criar algo no terceiro setor, ou mais empresarial.

Vale do Dendê: Hélio Santos, ítala Herta, Paulo Rogério e Rosenildo Ferreira. Foto: Ulisses Dumas/Divulgação

LN: Como e por que surgiu a ideia da empresa Vale do Dendê?

Paulo Rogério: A Vale surgiu com a constatação que mesmo Salvador sendo uma cidade criativa não há um empreendimento focado no investimento do ecossistema local. Em 2011 passei por uma experiência muito boa nos Estados Unidos e voltei com essa determinação de criar algo nesse sentido. Depois de transições e testes no IME, percebi que era importante e que tem muita gente interessada em aprender sobre empreendedorismo. Juntei então algumas pessoas para criarem o projeto: Helio Santos, acadêmico sobre desenvolvimento, Rosenildo Ferreira, jornalista experiente e determinado, e Ítala Herta, com seu conhecimento em relacionamento comunitário, de relações públicas e conhecimento cultural.

LN: Quais os desafios enfrentados por você e equipe neste primeiro ano desta que é a primeira aceleradora criada no Brasil voltada para empreendedorismo negro?

Paulo Rogério: A Vale do Dendê têm proposta primeiro como aceleradora, atuando desde 2017, segundo uma escola de inovação que estamos prototipando agora e terceiro, consultoria para empresas, fundações e instituições governamentais na linha de inovação e diversidade. Nesses três pontos conseguimos apoiar o sistema local. Nosso desafio e prática é ampliar como essa criatividade e experiência local pode inspirar outros lugares do Brasil e do mundo. Com as propostas que já temos recebido, estamos bem animados com essa perspectiva.

* Com colaboração de Mariana Gomes/A Lista Negra. 

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