Conta Black quer o empoderamento financeiro dos afrobrasileiros

Sergio All, CEO da primeira conta digital voltada para o empoderamento financeiro dos afrobrasileiros, defende que negritude e dinheiro não são antagônicos.

Mariana Gomes | Redação
gomes@alistanegra.com.br


Segundo análise feita pelo SEBRAE da última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), com dados sobre empreendedorismo divulgados em 2016, 51% dos empreendedores no Brasil são negros. 
Ainda de acordo com a pesquisa “Os Donos de Negócio no Brasil: análise por raça/cor (2001 a 2014)” , a maioria desses empreendedores não empregam ao menos uma pessoa. Isso não significa dizer que trabalham sozinhos. São profissionais autônomos, localizados principalmente no mercado informal, contando com trabalho familiar para criarem condições de sobrevivência.

51% dos empreendedores no Brasil são negros, mas pessoas negras continuam a ganhar metade do salário de pessoas brancas

Em países como o Brasil, pessoas negras têm historicamente empreendido por necessidade. Por isso que mesmo sendo mais da metade do empresariado brasileiro, negras e negros estão nos menores índices salariais do país. Os desafios vão desde a gestão e a dificuldade de acesso à orientação até o crédito, com a negação de recursos por bancos três vezes maior do que para pessoas brancas no Brasil, de acordo com a SBA (Small Business Administration), agência do governo dos Estados Unidos que oferece apoio à pequena e média empresas.  

Outro dado preocupante é o que traz o Banco Mundial sobre uso de contas bancárias no mundo, atividade necessária para recebimento e gerenciamento de recursos financeiros. 32% dos adultos brasileiros não têm conta bancária. O que por si só já entrava mais ainda as oportunidades de organização empresarial. Questões essas que fomentam os mitos de que dinheiro e negritude são antagônicos e de que pessoas negras, seja em África ou em sua diáspora, caso ousem ultrapassar essa falácia, podem apenas ser microempreendedores.

Desafiando o cenário nacional, a Conta Black é a primeira conta digital voltada para o empoderamento financeiro dos afrobrasileiros – e de todos aqueles marginalizados dos processos de autonomia econômica no país. Lançada no ano passado, esta fintech* independente visa potencializar as contribuições da comunidade negra brasileira em nossa economia, com criação de conta e crédito facilitado, emissão de boleto, transferência entre bancos e rede de parcerias.

Olhando para as histórias das pessoas entrevistadas pela A Lista Negra, percebemos que o cenário empreendedorismo no Brasil vêm se renovando e ampliando. Entretanto, os passos podem ser ainda maiores. “Chegou o momento de mostrarmos ao mercado que somos potência financeira e não só de consumo para que as instituições financeiras entendem o poder transformador da população negra quando se tem acesso a crédito”, afirma Sergio All, CEO da Conta Black. 

“Eu assumi este desafio”, Segio All. 

Ele que é publicitário e também integrante da Afrobusiness, atesta por experiência que negritude e dinheiro não são antagônicos.Pude transitar em vários mercados/segmentos, mas foi acompanhando os números sobre a ascensão e o crescimento da população negra e empreendedora ao longo dos anos que pude perceber que não há antagonismo nenhum entre um e outro e que é possível e real. Basta acreditar e fazer isso acontecer. Eu assumi este desafio”.

Mas será que temos força para movimentarmos nossos próprios bancos? Uma referência disso no mundo é a comunidade negra norte-americana. Através do movimento conhecido por Black Money, têm conseguido promover uma circulação de dinheiro na e para a população negra.

Seriados populares no Brasil como “Eu, a Patroa e as Crianças”, nos deixa um retrato que a maior parte da população negra lá é classe média e de que a comunidade negra é a maior do país. Na verdade, a pobreza existe também nos EUA, de forma que mesmo os negros americanos se recuperando mais rapidamente da última recessão no país, ainda têm mais chances de ficarem desempregados que os brancos. Além disso, negras e negros são apenas 13% da população estadunidense. O movimento black money existe para balançar esta estrutura.

Se metade dos empreendedores atualmente são negros, assim como metade da população brasileira, iniciativas como a Conta Black apontam para um só caminho: o da prosperidade. O que viveu a chamada nova classe média brasileira, demonstra que é possível potencializar as periferias dos grandes centros urbanos, apoiar os empreendimentos nos interiores do país, ter a oportunidade de nos nutrir, de nos impulsionarmos na tecnologia, nos estudos e qualquer outro lugar enquanto comunidade negra.

All é muito positivo enquanto junção dessas metades para zerar as desigualdades. Ele nos conta que o desejo da Conta Black é se tornar uma comunidade financeira “alcançar 1 milhão de contas, democratizar os serviços financeiros e criar o primeiro fundo para atender as necessidades do empreendedor negro, e de todos aqueles que estão a margem do sistema financeiro”.

O empreendedor reflete também sobre os desafios e aprendizados que a Conta Black têm acumulado nesse primeiro ano. “A Conta Black só conseguirá mostrar/transformar o poder do Afroempreendedor em nosso país se eles entenderem o papel importante como indivíduos participantes. Vamos apoiá-los, fazê-los entender que tem poder e conscientizá-los que fazem parte da mudança”.

 

Créditos – Foto em destaque na página inicial: WOCinTech Chat

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Aliste-se