Mariana Gomes | Redação
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Madalena Silva, mais conhecida como Madá Negrif, tem 45 anos e está há 20 no mercado de moda. Filha de costureira, seu olhar para o mercado partiu dos retalhos de sua mãe. Depois começou vendendo seus produtos na sacola e há sete anos a Negrif, sua marca de vestuário, tem loja física no centro histórico de Salvador.
De coleção em coleção, a Negrif é reconhecida por sua modelagem ampla, e estampas que vão desde ilustrações de mulheres negras, influenciadas pela vida de Madalena, que cresceu rodeadas de mulheres, até grafismos que remetem às heranças africanas que circulam no Brasil. “Trago a força das mulheres da minha família para acreditar todos os dias e fortalecer através da memória afetiva o caminho que elas percorreram para que eu pudesse chegar até aqui”, nos conta.
Todo o trabalho tem a preocupação em incorporar em seus produtos o respeito a pluralidade de corpos e vivências, tendo em vista a própria diversidade das mulheres negras que compõem esse país, hoje aproximadamente 50 milhões de pessoas. A própria Madalena é uma mulher negra, alta e que gosta de se sentir livre 24/7. “A minha necessidade em ter um produto que me identificasse foi o motivo de começar a criar minhas peças. Sou uma mulher negra de 1,80m, não gosto de marcar minhas curvas. Então o desejo por uma roupa que me desse liberdade e identidade”, explica a empreendedora.
Nesses anos de experiência, além de acreditar em sua ideia, foi observando o mercado e buscando formação que construiu seu caminho. “Fui caminhando, olhando, observando. Fiz um curso no Senac de produção de moda e estilismo, depois faculdade. Sou designer de moda e tenho pós em gestão de eventos”.
Para Madalena, o sonho é diário. “Quero sempre continuar fazendo um trabalho de respeito, carinho e cuidado para com o outro, enaltecendo sua beleza muitas vezes fora de padrão para quem acredita em padrão”, relata a estilista. A maneira que encontrou para lidar com os desafios burocráticos como impostos, taxas de cartão, e da concorrência, é empregando “cuidado, desejo, identidade num conceito de criação levando em consideração que cada cliente é um”, afirma.
Em nossa conversa para A Lista Negra, Madá Negrif nos lembra momentos importantes dessas duas décadas, como colocar 18 mulheres acima de 35 anos no Dia da Consciência Negra para desfilarem no palco do Teatro Vila Velha e participar como palestrante de um evento em Brasília em celebração ao 25 de Julho, Dia Internacional da Mulher Negra Latino Americana e Caribenha. E reforça o quão importante é não perder-se de si conforme revigora seu espaço. “Para quem quer empreender, comece, mas não olhando tanto ao redor, olhe para si, para suas memórias afetivas, construa o seu diferencial”.