Dona Lili abre as portas de casa e tira o sustento do amor pela culinária afrobaiana

Após perceber o aumento de pedidos e clientes, a comunicadora Lilian Almeida se dedicou de vez à gastronomia. 

Mariana Gomes | A Lista Negra
gomes@alistanegra.com.br

Dona Lili enaltece em sua profissão não apenas os sabores da comida afrobaiana, mas também sua história. O tempo todo em em entrevista A Lista Negra nos chamou a atenção em como nossas ancestrais, sobretudo em cidades como Salvador, trouxeram do outro lado do Atlântico, ensinamentos de como empreender. Para Lilian Almeida, “não existe quem desempenhe melhor o movimento de negociar e gerar dinheiro naquela e nesta sociedade”, do que aquelas que vieram antes de nós.

“a cozinha como um portal que me leva aonde tenho que ir. É espiritual para tudo e todos nós”.

E todo esse orgulho tem mesmo motivo. Conhecedora dessa memória, ela conta que “em 1.500 as mulheres de certas regiões da África, já mercavam de ganho, já transitavam em ruas e até feiras vendendo”. “Essas mulheres foram sequestradas, torturadas, escravizadas e ainda assim, na primeira oportunidade que tiveram, aqui nessa terra desconhecida à elas, voltaram às ruas mercando de ganho. Voltaram às ruas que logo se tornaram suas ruas”. Daí dá para tirar que a casa de Dona Lili, no bairro do Bonfim, na Cidade Baixa, em Salvador (BA), onde recebe amigos e clientes para degustar, têm dendê na medida certa – no prato e na história – além de uma vista maravilhosa para as águas da Baía de Todos os Santos.

Lilian Almeida, a Lili, é conhecida pela boa receptividade e cuidado na preparação dos pratos. Foto: Divulgação

Ainda tem dendê na recepção, que para Lilian é sua aposta diferencial. Os pratos são organizados para chegarem com o melhor atendimento possível, uma das maiores preocupações de Dona Lili em seu espaço. “Enxergo a cozinha como um portal que me leva aonde tenho que ir. É espiritual para tudo e todos nós”. E se mancha de dendê não sai, fica difícil esquecer de um lugar desses.

Assim como suas ancestrais, Lilian tira o sustento do poder de sua cozinha. Há 4 anos, ela percebeu que depois vários serviços prestados dentro e fora da culinária, já possuía uma cartela de clientes e outros contatos. Para ela, que também já trabalhou na comunicação social, foi a hora de se organizar para enxergar de forma mais clara o potencial do trabalho, melhorar os serviços já prestados e expandir. “Tenho o privilégio consciente de tirar do que sou, o meu sustento financeiro. Meu ofício, é o que sou”.

Daí mesmo estão os desafios e o combustível para continuar sonhando. Dona Lili compartilha que dentro da descoberta profissional, o desafio está em observar e realizar uma nova imagem dela para si mesma. “Até um tempo atrás eu estava com muito medo. As coisas estão acontecendo, e dentro, aos poucos estou me acomodando nessa nova mulher. Não sentir incômodo por ser inteligente e talentosa têm sido parte disso. Submergir a todo momento convicta de que mereço essa boa colheita. Ciente e firme com a minha realeza”.

Nesse caminho, três coisas pautam o seu trabalho: comunicação, alimento e amor. “Além de produzir e armazenar congelados, dou aulas práticas, fotografo e gravo as receitas que compartilho nas redes sociais. Também penso nos próximos textos, me reúno para decidir sobre os projetos para os quais sou convidada e em como utilizar melhor as oportunidades profissionais e pessoais”, conta a empreendedora para A Lista Negra.

“Meu ofício, é o que sou”.

E para quem pretende dar os primeiros passos, o conselho de Dona Lili é um só. “Comece onde você está, com o que você tem. Nós mulheres brasileiras somos empreendedoras, isso está no nosso DNA ancestral precisa ser ativado. Empreender não é só abrir um restaurante num shopping, saiba que quando sua avó vendeu comida no tabuleiro ela estava empreendendo. E graças a isso, você está aqui hoje na internet lendo esse texto, graças ao empreendedorismo da vovó.  E saiba que a sua oferta, seja ela culinária, artística, de moda, educacional, seja lá qual for, é o seu empreendimento! E é dele você vai começar. Tenha fé, organize as idéias, peça ajuda e vá”! Tá bom para você?

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