Designer acredita que o maior desafio tem sido produzir dinheiro sem esquecer do maior propósito de sua marca.

Mariana Gomes | Redação
gomes@alistanegra.com.br

Que representatividade importa, a gente já sabe. Mas quando ela é bem estimulada desde a infância é capaz de criar crianças felizes por saberem quem são e confiantes em seus sonhos. Por isso a designer Geórgia Nunes criou em 2016 a Amora Brinquedos Afirmativos, um negócio social que produz brinquedos que estimulam a autoestima de crianças negras, no intuito de promover ações afirmativas para o público infantil. Através de bonecas e bonecos negros as crianças negras têm a chance de se reconhecerem e se empoderarem. E, de uma forma geral, todas crianças tem a chance de aprender a reconhecer e respeitar as diferenças, com brinquedos que mostram que ser diferente não implica em ser desigual.

“apenas 3% das bonecas comercializadas no Brasil hoje são negras”.

Depois de precisar achar bonecas pretas para uma atividade com crianças em outubro de 2015, e ter se deparado com a falta delas nas prateleiras, Geórgia fez uma pesquisa e constatou que apenas 3% das bonecas comercializadas no Brasil hoje são negras, ao mesmo tempo que 54% da população brasileira se autodeclara negra. “Essa discrepância nos números, atrelado aos depoimentos que eu ia coletando no caminho me impulsionaram a tomar uma atitude”, conta a empreendedora.

Geórgia resolveu agir então, ocupando um lugar no mercado com um negócio social. A Amora Brinquedos atua em três frentes diferentes: vendas, doações e ações afirmativas. “A cada Amora que é vendida, outro brinquedo afirmativo é doado em eventos que realizamos de forma gratuita em Instituições Educacionais públicas”, explica a empreendedora. “Com isso, permitimos que este brinquedo afirmativo, que já se constitui uma ferramenta de construção de autoestima e identidade, possa ter seu potencial de transformação ampliado, ao ser trabalhado pelos professores em sala de aula, e ao poder ser acessado por diversas crianças na escola”.

Para Geórgia, o maior desafio tem sido produzir dinheiro sem esquecer do maior propósito de sua marca. Ela divide seu tempo entre o ateliê de brinquedos e o trabalho como designer. O modelo de venda, de onde vem a maior parte do retorno financeiro, acontece principalmente das vendas, que são feitas na sua loja online e por meio de lojas colaborativas físicas. Pelo o que indica, a empreendedora está no caminho certo. No ano passado, a Amora Brinquedos foi premiada na categoria Jovens Empreendedores Sociais, do Prêmio Laureate Brasil.

Além de continuar crescendo financeiramente, Geórgia revela que deseja alcançar todas as escolas de Salvador e aumentar o número de bonecas e bonecos pretos comercializados no país. “Dê o primeiro passo, mesmo que ache que não esteja tão bom assim. Coloque seu produto para teste, veja aceitação, refaça, coloque para teste de novo, e enquanto isso procure um curso, se especialize, cole em alguém que já possui experiência, peça ajuda. Coragem e ousadia!”, orienta outras pessoas que queiram traçar caminhos como o seu.

Durante esses quase dois anos de Amora, Geórgia conta que ter feito especialização em Design Estratégico ajudou a traçar as metas do negócio. Além disso, ela destaca que o apoio de pessoas como a jornalista Camila Paranhos, a idealizadora do Cadê nossa boneca?, Mylene Alves, a produtora cultural Ivana Soutto, o coordenador do Labsocial da Unifacs – Laboratório de Empreendedorismo Paulo Henrique e de participar de iniciativas como a aceleradora Vale do Dendê tem auxiliado na estruturação e sucesso da empresa que já se mostra como um grande marca no segmento de bonecas.