Geórgia conta mudanças na vida após entrar em Stanford e diz não acreditar em meritocracia

Midiã Noelle | Redação
noelle@alistanegra.com.br

Conhecida como a “menina-prodígio” do interior da Bahia aprovada em nove universidades dos EUA, Geórgia Gabriela Sampaio agora está colhendo os frutos dos 12 meses de dedicação extrema que viveu em 2014, para alcançar o seu objetivo: ter a sua ideia reconhecida. Com voz suave e firme, a feirense estudante de Stanford, na Califórnia, contou em entrevista ao Lista Negra, como está a vida após ter o seu projeto – sobre formas mais simples de diagnosticar a endometriose – aprovado, tornando-se uma ícone para muitos jovens que a tem como inspiração.

Atualmente morando no campus, em Palo Alto, a jovem de 20 anos está com a rotina intensa por conta das aulas e atividades extracurriculares, o que considera “corrido, mas prazeroso”, e ainda está envolvida em uma pesquisa de cooperação entre Stanford e a Universidade de São Paulo (USP) com foco no estudo de vacinas para o vírus hiv e o vírus zika (doença oriunda do mosquito Aedes Aegypti). “É diferente do que eu estava fazendo. Quando cheguei tinha uma professora que eu queria trabalhar [endometriose], mas ela saiu e está em uma universidade de medicina. Como medicina nos EUA é pós-graduação, e não sou qualificada, quero ganhar experiência para aplicar”.

Modesta ao falar sobre si, Geórgia disse que a experiência tem sido importante para se desprender das incertezas, dos limites e, como se não soubesse, à aprender a se organizar. “Mudei a forma como priorizo as coisas. É um processo de conhecimento e contínuo”, explicou. Derrubar muros e desconstruir roteiros “pré-estabelecidos” sempre foram parte do cotidiano da jovem, única da família a estudar em escola particular – foi bolsista – e, também, única entre os cinco irmãos a ter, até o momento, acesso ao ensino superior.

“Oportunidades x Meritocracia”

Para Geórgia, oportunidade é a chave para o sucesso. “Sempre estudei em escola particular com bolsa e era estranho como eu era a estranha tanto no meu bairro, quanto na escola. A escola foi um lugar para ter ferramentas para minha vida. E era estranho voltar da escola e ir para o meu bairro. Eu tinha muitas oportunidades com a bolsa, mas as pessoas que conviviam comigo não. Sou a 5a de seis filhos do meu pai. A primeira a ir para à universidade. Dos meus irmãos mais velhos talvez eu tenha sido a primeira a terminar o ensino médio. Somos filhos de mães diferentes e sei como as oportunidades tiveram impactos na minha vida e fizeram a diferença”.

A baiana enfatizou ainda que precisa estudar mais sobre cotas raciais e o debate da meritocracia no Brasil, mas com base na própria experiência, sabe que as diferenças na qualidade da educação pública e privada ainda são gritantes. “Existe um contexto muito maior para além da escola. Sempre estudei em colégio particular, mas isso não mudou a pessoa que eu era e onde morava. Eu via, por exemplo, diferenças na minha forma de viver e de outras pessoas. O tipo de hospitais que as pessoas iam, o tipo de transporte que usavam. Não dá para falar em meritocracia sem considerar o contexto que cada pessoa está inserida. Eu não acredito nesse contexto seco”.

A história de Gabi causou identificação e comoção em muita gente e, também, em empresas, que viram na sua trajetória um incentivo para outras pessoas. Recentemente ela participou da campanha #Descubraqueépossível da Neutrogena e falou sobre como acreditar em si mesmo é fundamental para alcançar o que se almeja. Ao ser questionada pelo Lista Negra sobre quando percebeu que seu sonho poderia ser real, confidenciou que demorou. A baiana contou que isso sempre foi algo muito distante da sua realidade. “Se eu tivesse ido para faculdade da minha cidade já teria sido revolucionário. Acabei meu primeiro ano em Stanford e às vezes penso nisso e continuo maravilhada porque era uma coisa que eu queria muito e demandou muito trabalho”.

“Todo mundo é empreendedor”

Com um pé no presente e outro no futuro, Geórgia Gabriela é cientista, mas também se considera empreendedora. “Se eu pensar no Brasil e, principalmente, no background que tenho de como os brasileiros se viram para cumprir as obrigações e colocar a comida na mesa, posso considerar que todo mundo é um pouco empreendedor”, disse. Ela espera, após concluir os estudos, se tornar uma empreendedora no conceito mais formal, seja no desenvolvimento de produtos ou ao aplicar o conhecimento adquirido em algo.

Para as pessoas que assim como ela sempre estão em busca de fazer o impossível acontecer, Geórgia dá as seguintes dicas: 1) tirar o impossível do vocabulário e acreditar que de fato é possível; 2) parar de achar que ser quem você é te limita; 3) pensar nos passos (decisões e metas a cumprir) com prazo determinado. E, por fim, o mais importante dos conselhos: “fazer o seu melhor”.

 

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