Engana-se quem acredita que profissionais da área do Direito não tem coração. A jovem negra Laina Crisóstomo é prova disso! Acostumada a oferecer seu conhecimentos jurídicos e serviços “na amizade” para pessoas sem condições financeiras, ela e outras três mulheres, fizeram a exceção virar regra e inspiração.
Ao conhecer a campanha Mais Amor Entre Nós, idealizada pela jornalista Sueide Kintê, que promove sororidade entre mulheres a partir de apoios diversos e gratuitos, surgiu a oportunidade da ativista advogar para mulheres em situação de violência de forma mais humanizada. O post com a oferta de Laina, feito em abril deste ano, gerou nada mais que seis mil curtidas e cinco mil compartilhamentos em um único dia. Era o início de uma iniciativa inovadora de solidariedade: o TamoJuntas!
A partir daí, outras profissionais da área jurídica se solidarizaram com a ideia e se uniram na causa. “Através do post conheci Carolina Rola e Aline Nascimento, também advogadas. E, a partir daí, começamos a atender mulheres. Um mês depois criamos a página do TamoJuntas no Facebook e desde então a busca das mulheres de todo o Brasil tem crescido. Seja de vítimas de violência ou advogadas se disponibilizando. Também integra o coletivo Natasha Barreto e outras voluntárias”, contou a baiana da ação que já atendeu mais de 100 mulheres pessoalmente e 700 pelo Facebook.
A advogada de 29 anos disse que as mulheres são sua inspiração desde sempre. “Sempre gostei de ajudar, mesmo diante de várias dificuldades que passamos eu e minha mãe. Ela me ensinou a ajudar o próximo. Uma mulher incrível! Abandonada pela mãe, pelo pai e pelo marido, mas que nunca deixou de acreditar nas pessoas”, compartilhou emocionada a jovem criada no bairro de Brotas, em Salvador, mesmo bairro em que fica localizada a Deam (Delegacia de Atendimento à Mullher) e onde trabalhou Dra. Isabel Alice, ex-delegada e “uma parente emprestada e referência”.
O maior desafio atualmente é angariar recursos financeiros para ampliação do atendimento e acompanhamento multidisciplinar com duas assistentes sociais e três psicólogas. “O objetivo é atender, acolher e acompanhar mulheres em situação de violência, seja no aspecto jurídico, como foi inicialmente, e com assistência social e psicológica”. Tudo é voluntário atualmente, inclusive os mutirões, feitos com doações das integrantes do coletivo e amigas próximas.
Sobre a visibilidade do #TamoJuntas em tão pouco tempo, Laina destaca que se deve a carência do sistema no atendimento digno e humanizado às mulheres. “Já no início da página tivemos um alto número de curtidas – no momento são mais de 65 mil! Mas aumentou depois dos últimos acontecimentos de violência contra às mulheres, como os casos de estupro coletivo e feminicídio”. A advogada é feminista e ressalta que os movimentos de mulheres estão “cada dia mais fortes” com “iniciativas que tem fortalecido o conceito de sororidade”. “Devemos isso ao feminismo. Mas o feminismo de luta, não acadêmico, nem de mídia social. Nascemos dentro do Facebook e agradecemos o poder das redes sociais na web, mas vemos muita gente sendo militante apenas de “face”. É preciso ir efetivamente à luta nas ruas e, também, no judiciário”.
Laina contou ainda que algumas pessoas pedem o número de conta para ajudar com alguma quantia e, por isso, foi criado um CNPJ. “Somos uma associação constituída e estamos batalhando atrás de edital para sobreviver e ampliar nossa atuação. Nos denominamos coletivo, mas hoje somos uma associação. Estamos criando nosso site, conseguimos uma sede provisória em Salvador e estamos com advogadas voluntárias nos estados de Pernambuco, Sergipe, Alagoas, São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Paraná, Paraiba, Mato Grosso, Distrito Federal, Goiás e Santa Catarina.

O quê? TamoJuntas
E-mail: tamojuntassempre@gmail.com
Facebook: @tamojuntas
*Matéria escrita pela jornalista Midiã Noelle, na primeira versão do site A Lista Negra, em 2016.