Farmacêutica inova ao empreender com cosméticos naturais e se torna referência

Há quatro anos Monaliza Borges Soares (Mona Soares), 36 anos, passou por momentos difíceis. Foi demitida do emprego e reprovada na seleção de mestrado que tanto almejava. O impacto a deixou sem “saber o que fazer da vida”. Formada em farmácia, a baiana de Feira de Santana enxergou na produção de cosméticos naturais uma possibilidade de recomeço. E hoje é uma referência na área cosmética através do reconhecimento da sua empresa Ewé Alquimias, que não apenas vende os cosméticos naturais e artesanais, mas também organiza cursos, livros e consultorias.

Quando começou a se interessar por aromaterapia e perfumaria botânica, os familiares e amigos foram os primeiros a experimentar as suas experiências. O interesse em plantas medicinais desde o tempo da faculdade estava se transformando em negócio. “Só depois de um tempo é que passei a comercializar os produtos”, contou a empreendedora que é muito organizada e só se joga naquilo que acredita. “É um mercado muito bom e como a área de cosméticos naturais está em crescente expansão, me sinto realizada”, enfatizou a farmacêutica que traz em sua identidade as referências dos seus pais que são do sertão e recôncavo baiano.

Apesar da realização, Mona acha que empreender é muito difícil, sobretudo por envolver a produção criativa. “Meu maior desafio é que sou muito mais artista do que empresária. Eu gosto de criar. Outro fato é que não temos leis claras no país que acolham a cosmética artesanal. Eu não me vejo produzindo em grande escala, meu trabalho é artesanal e autoral”. A feirense que mora há 20 anos em Salvador pretende ampliar a cartela de cursos para poder mostrar mais as pessoas “que fazer o próprio cosmético pode ser simples, divertido e libertador”.

A internet é a grande aliada de Mona, que em breve dará cursos virtuais para facilitar o acesso das pessoas que não são de Salvador aos seus conhecimentos. E é por meio da rede virtual que também vende os produtos. Porém, planeja ter um espaço físico para a comercialização dos produtos que, apesar darem bastante retorno, ainda não são sua principal fonte de renda. “Na verdade, eu até conseguiria viver da empresa porque ela engloba atividades diversificadas. Mas atualmente também trabalho para o projeto RHOL, que é uma rede de hortos de plantas medicinais e litúrgicas de terreiros de candomblé”, contou a baiana que prioriza o respeito a natureza em tudo que faz.

 

Mona também assina uma coluna de beleza em um site e atualmente só participa de atividades profissionais que tenham conexão com a Ewé Alquimias e que a realizem, como o projeto Afrotonizar, financiado pelo Fundo de Cultura da Secretaria de Cultura do Governo do Estado da Bahia (Secult). Mona está realizando oficinas sobre cosméticos naturais para jovens negros de quatro territórios de Salvador até o final do mês de julho de 2017, por meio da ação de promoção de empreendedorismo e economia criativa. “Um dos motivos que me levou a participar da equipe de oficineiras foi a percepção de haver poucas pessoas negras produzindo cosméticos naturais com o objetivo de comercialização”.

A farmacêutica também faz essa reflexão racial ao pensar no cenário atual em que a indústria cosmética começou a enxergar a população negra enquanto consumidora. “Isso é algo que tem me entristecido bastante. A forma como o cabelo crespo tem sido visto pela indústria de cosméticos convencionais. Grandes marcas, cujos donos são pessoas brancas, na maioria do Sudeste, veem nesse processo de aceitação do cabelo crespo apenas cifras”, denuncia.

Monaliza acredita que o cuidado com o cabelo crespo e com o próprio corpo, como um todo, não precisa ser algo de extrema complexidade. “Tenho palestrado sobre isso, trazendo reflexões que podem levar à simplificação. Então acho que meu trabalho passa por essa militância também”.  E é por meio da sua mistura de militância, conhecimento sobre medicina tradicional, do uso de ingredientes naturais, e na falta do medo de errar, que ela repassa os seus saberes. E assim o seu trabalho se reflete no cuidado, respeito, e conexão com a terra, com as plantas, com os rios, com o mar, com as pessoas.

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Essa matéria faz parte de uma série especial em homenagem ao 25 de Julho – Dia Internacional da Mulher Negra Latino Americana e Carinha e do mês da agenda Julho das Pretas, agenda do movimento de mulheres negras, organizada anualmente pelo Odara – Instituto da Mulher Negra. O texto foi feito ainda no âmbito da parceria do Lista Negra com o projeto Afrotonizar. Texto elaborado pela jornalista Midiã Noelle e publicado na primeira versão do site A Lista Negra em 2017.

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