Massalarica: jornalista vende pizzas e transforma varanda em espaço cultural

Menina dos olhos de Oyá e Oxum, Juliana Dias é a tempestade e a calmaria. A sua capacidade de reinvenção e de sobrevivência, sempre acompanhada de um sorriso no rosto, é de causar inveja e inspiração em muitas pessoas. Pequenina, a moça de pouco mais de 1,60m se transforma em uma gigante quando precisa alcançar os seus objetivos. E foi por saber dar nó em pingo d’água, que a libriana viu na dificuldade para conseguir um emprego fixo na área de jornalismo, a oportunidade para ter o seu próprio negócio: o Massalarica, que vende pizzas artesanais, com preços acessíveis e entregues na casa dos clientes.

Da venda das pizzas, Juliana que é comunicadora, viu a chance de utilizar a varanda da própria casa, no Nordeste de Amaralina, com sua bela vista para o mar, em um espaço cultural. Surgindo então, além de Juliana pizzaiola, a Juliana produtora cultural do “Puxadinho Massalarica”, que ocorre uma vez por mês e mobiliza a participação de artistas locais, como o Coletivo Boca Quente, a drag queen Rosa Morena e o DJ Gug, até mesmo nacionais, como a arte-ativista Micaela Cyrino, de São Paulo, e o cantor irlandês Paddy Groenlandx. Para além das apresentações musicais e teatrais, o evento reúne também exposições, saraus, brechó e vendas de produtos naturais, gastronômicos e de vestuário.

Entretanto, enquanto produz o evento cultural e vende as pizzas, Juliana segue no dia a dia em busca de outras alternativas financeiras a partir da sua profissão como jornalista. “Não tenho prejuízos e nem o lucro que eu gostaria, porque o retorno financeiro está relacionado essencialmente com a quantidade de tempo que invisto na divulgação da marca e produto. Como me interessa continuar atuando como jornalista freelancer, quem termina por definir o tempo dedicado ao Massalarica são meus trabalhos paralelos”. Apesar das demandas, a jovem de 29 anos diz acreditar que utilizar a própria casa é uma alternativa vantajosa. “Não é a primeira vez que utilizo a casa que resido para compartilhar arte, cultura e gastronomia. Quando vivi em Buenos Aires idealizei e produzi, por dois anos, uma mostra de arte latino-americana com participação de dezenas de artistas na casa que dividi com um amigo”.

A baiana que cresceu entre os bairros de São Rafael e Boca do Rio, em Salvador, acredita que o empreendedorismo “é um caminho que tem de ser explorado e colocado em prática”. “No Brasil, criar novas alternativas de geração de renda é questão de sobrevivência, especialmente para a juventude negra. Infelizmente as formas convencionais de trabalho estão cada vez mais escassas e ameaçadas e o resultado disso certamente pesará mais em nós mulheres, negros e jovens”.

Sobre ser uma jovem, mulher, negra, no ramo do empreendedorismo, Juliana destaca ter conhecimento das implicações relacionadas às questões de gênero e raça e como os desafios são maiores nesse sentido. “Acho que tem diferencial sim, tanto do ponto de vista da quantidade de pedras no meio do caminho quanto da força e perspicácia para atravessá-las, vide as referências anteriores que nós temos e os felizes exemplos que estão surgindo”.

Juliana se considera perfeccionista, mas compreendeu que não é preciso “ter tudo” para iniciar um negócio. “Você pode estabelecer suas estratégias no decorrer de seu crescimento. Assim foi com o MassaLarica que comecei em julho do ano passado e com o Puxadinho que dei o start em novembro. É como dizia Chico Science: ‘Um passo à frente e você não está mais no mesmo lugar’. Sendo assim, que nos movimentemos, saiamos dos nossos lugares e ocupemos os espaços com garra, leveza e simplicidade, como a bela rastafari de búzios no cabelo.

   

*Texto elaborado pela jornalista Midiã Noelle e publicado na primeira versão do site A Lista Negra em 2017. 

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