Mariana Gomes | A Lista Negra
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O Novembro Negro é uma iniciativa desenvolvida por movimentos negros brasileiros. Compreende-se o 20 de Novembro como data importante para a história do país e da população afrodescendente por se tratar da data do falecimento de Zumbi dos Palmares, último líder do Quilombo dos Palmares, localizado na Serra da Barriga, em Pernambuco. Diferente do 13 de Maio, que demarca a assinatura da lei Áurea, a data do Dia Nacional da Consciência Negra resgata o protagonismo de pessoas negras em suas trajetórias por emancipação.
Ngola Janga, como nomeado o quilombo de Palmares a partir da matriz linguística banto, se constituiu como reconfiguração sociais dos africanos e seus descentes no Brasil. O território formado por 9 mocambos (aldeamentos) permaneceu pleno por mais de 100 anos, chegando ter cerca de 20.000 habitantes. Estrategista, Zumbi foi responsável por expandir o território da Pequena Angola. Palmares também é berço de mulheres como Aqualtune, ancestral de Zumbi, e Dandara, parceira de celebração e luta do defensor quilombola. Elas não nos deixam esquecer o protagonismo das mulheres para a existência das comunidades negras.
Este legado representa hoje o sonho de liberdade construído ao longo de pelo menos quatro séculos por africanos e seus descendentes no Brasil. Nós dA Lista Negra reunimos histórias de empreendedores negr@s de todo país por acreditarmos na escrita de novas narrativas, sem esquecer de todo o caminho calçado pelos antepassados, que empreenderam o que nos é mais valioso: a vida.
Por este motivo, lançamos para o Novembro Negro de 2018 a campanha “Nossa História Tem Valor”!
Conheça agora a trajetória de algumas personalidades negras importantes para construção do Brasil e da diáspora africana.
Tia Ciata é celebrada como a matriarca do samba, mas essa é somente parte de sua história. Hilária Batista de Almeida, nasceu em Santo Amaro, Bahia, no ano de 1854. No final do século XIX, muitos baianos se dirigiram à cidade do Rio de Janeiro e lá estava tia Ciata. Mulheres como ela saiam às ruas de turbante e vestido de baiana para venderem seus quitutes, recebendo o título de “tias baianas”. Tia Ciata é a mais conhecida delas, uma verdadeira Yalodê.
Tia Ciata: Quituteira, mãe de santo e matriarca do samba.
No quintal de sua casa, no bairro que ficou conhecido como Pequena África, recebia diversos convidados com direito a rodas de samba regados a uma boa comida. Foi em sua casa que surgiram composições como a “Pelo Telefone”, reconhecido como o primeiro samba gravado no Brasil, com composição atribuída a Donga. Além de uma exímia cozinheira e incentivadora da música, tia Ciata era também mãe de santo. Filha de Oxum, tornou-se grande símbolo de resistência no pós-abolição, num momento em que a capoeira e o candomblé, por exemplo eram proibidos. Hoje seu legado é continuado por sua família através do projeto Casa da Tia Ciata, Esta personalidade é uma autêntica produtora de sua cultura e mantenedora da fé de matriz africana.
Qual o poder por trás de uma linha e de uma agulha? Os alfaiates e outros profissionais que participaram da Revolta dos Alfaiates, na Bahia, no fim do século XVIII, talvez tenham uma pista: liberdade. “Animai-vos, povo bahiense, que está por chegar o tempo feliz da nossa liberdade, o tempo em que seremos todos irmãos, o tempo em que seremos todos iguais”. Em outras palavras, inspirados por revoluções como a do Haiti e de outras movimentações que aconteciam no Brasil colônia, os conjuradores baianos pregavam a libertação dos escravizados, governo igualitário, livre comércio e aumento do salário dos soldados. Também defendiam a construção da República Baiana, com direito a confecção de bandeira, que inspirou atual do estado.
Liberdade, igualdade e fraternidade baiana: o legado da Revolta dos Alfaiates.
Os soldados Lucas Dantas e Luís Gonzaga, assim como os alfaiates Manuel Faustino e João de Deus foram reconhecidos como heróis nacionais em 2011, mas há 220 anos eles eram condenados à morte pelo Estado brasileiro. Ao lado deles, lutaram outras pessoas que costuraram o anseio da liberdade que colhemos hoje.
O jamaicano Marcus Garvey é conhecido mundo a fora por ser um dos grandes nomes do nacionalismo negro, influenciando o panafricanismo e a cultura Rastafari. Nascido do final do século 19, Garvey conheceu a realidade de pessoas negras ao redor do mundo e criou mecanismos de fortalecimento e autoafirmação. Um deles foi a UNIA, Associção de Melhoria Universal do Negro. A partir dela, conseguiu empreender negócios que prezavam pela independência das comunidades negras.
Filosofia, empreendedorismo e comunicação são as contribuições de Marcus Garvey.
Com a UNIA, foi responsável pelos navios da Black Star Line para facilitar o transporte de afro-americanos e tudo que pudesse fortalecer uma economia global africana. Também a partir da UNIA, criou a Universal Printing House, responsável por publicações como o Negro World, jornal semanal de grande alcance no mundo. Construiu ainda a Negro Factories Corporation, com objetivo de criar e operar fábricas em grandes centros comerciais nos EUA e nas regiões da América Central, da Índias Ocidentais e de África. Anunciou empreendimentos como Phyllis Wheatley Hotel, para acolher representantes da UNIA de todo o planeta, e a Universidade Booker T. Washington, levando o nome do escritor americano que foi um de seus mentores. Enquanto morava nos EUA, seus esforços como comunicador ajudaram o movimento conhecido como Renascimento do Harlem.