Caminhos percorridos até aqui

Midiã Noelle em um agradecimento sincero. 

Quem conhece o bairro da Liberdade em Salvador, sabe que passar pela “Linha 8”  é ter de driblar os caminhos na calçada tomadas por ambulantes. O comércio do bairro sempre foi muito ativo e sempre observei o trabalho intenso destas pessoas que, mesmo se compreendendo como trabalhadoras, não encaravam aquilo como um negócio. Ao conversar com ambulantes e camelôs, trabalhadores do dito mercado informal, sempre percebia um tom de “pouca coisa”, trabalho menor… O que sempre me pareceu muito estranho. Afinal, não há formalidade no informal? Com a maturidade fui compreendendo que essa sensação de inferioridade também era efeito e resultante do racismo cotidiano nas vidas destas pessoas.

Na minha infância lembro do meu pai dono de uma locadora. Era fantástico sair da escola, na 4ª série, passar lá, pegar um vídeo e ir pra casa assistir os filmes. Achava tão legal meu pai ser dono de uma locadora. Ele também era fotógrafo e tinha uma ilha de edição em casa. Ou seja, era a minha fonte de entretenimento. Com a chegada dos DVDs e da internet, meu pai quebrou e fechou a locadora. Mas ele seguia persistente e montou uma loja de videogames. Com o tempo, também fechou. Desde então ele passou por vários trabalhos, mas nada que o fizesse tão feliz como ter seu próprio negócio.

Quando penso nestas pessoas empreendedoras, penso no meu pai. Penso em mim. As pessoas merecem ter seus sonhos, seus investimentos e trajetórias contadas. Como diria Lélia Gonzales, temos nome e sobrenome. A população preta existe e precisa ser vista. Conheço muitas pessoas empreendedoras e sempre tivemos como sinônimo da palavra empreender, sobreviver! Sobrevivemos em tudo, até na desconstrução cotidiana do racismo. Por isto, inclusive, a marca do site se propõe a ser um espelho, no intuito de desconstrução do imaginário coletivo de que “Lista Negra” é uma coisa ruim. Assim como tudo que remete ao preto, ao negro, sempre tem uma conotação negativa, como a “coisa tá preta”, “mercado negro”, “barriga suja”, “pé na cozinha” e tantas ouras. O site vem na contramão desse imaginário e apresenta uma gama de histórias de vida de empreendedores negros para, consequentemente, causar reflexão.

Entender a potência desse projeto também não foi fácil. Acho que a ficha só caiu quando fui mencionada como Mulher Inspiradora 2016 pela ong feminista Think Olga. E que bom que a ficha caiu e agora estamos aqui. O surgimento deste site não seria possível sem a participação de muitas pessoas queridas, sobretudo de Mariana Gomes, Gabriela Carvalho, Rafael Rafic, Celine Ramos e todas as pessoas que concederam entrevistas e que abraçaram a nossa ideia. Nós só estamos começando e temos muito para fazer – juntos! Sou, porque nós somos. Obrigada por se alistar!

 

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