Estilista é dono de marca respeitada por nomes como Elza Soares, Camila Pitanga e Djamila Ribeiro.
Mariana Gomes e Midiã Noelle
gomes@alistanegra.com.br
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Isaac Silva nasceu em uma cidade chamada Barreiras, no oeste da Bahia. O nome da sua terra natal já anunciava ao estilista os desafios que teria de enfrentar por ser um jovem, negro, gay, nordestino, destemido e orgulhoso de ser quem é. Hoje, reconhecido nacionalmente, ele sabe muito bem qual a fonte para voar e alcançar o sucesso: acreditar no próprio sonho. O dele? Era costurar. E foi assim que tudo começou, quando ainda adolescente mudou-se para Salvador, mesmo sem aprovação da família.
Entre um perrengue ou outro sofrido pela emancipação, aprendeu sobre as linhas, cortes, máquinas, formas de acabamento e se apaixonou pela criação. Isaac acabou se formando em Design e Gestão de Moda e aos 20 anos partiu para São Paulo. Na selva de pedra, utilizou seu talento e sorriso no rosto para conquistar o próprio espaço. Há três anos é dono da marca de vestuário e acessórios que leva o seu nome e tem contribuído para escrever um novo capítulo da indústria da moda brasileira, através de uma narrativa que aposta na cultura negra como protagonista das criações.
“Devemos ter certeza e coragem para dar o primeiro passo”.
Com loja física lançada neste ano, na Rua Jaguaribe, no bairro de Santa Cecília, em São Paulo capital, Isaac é um dos exemplos que comprovam como é possível utilizar a própria trajetória e noções de identidade e representatividade para criar um empreendimento. No caso do estilista, podemos chamar também o seu negócio de arte. Sim. Arte! Pois é o que vemos nas suas criações, tanto nas passarelas, quanto nas araras. Suas coleções fazem referência às manifestações culturais e figuras históricas que têm berço no nordeste brasileiro: “Lady Bahia” – coleção inteiramente influenciada pelo envolvimento do axé nas terras baianas; “Eu amo festas juninas” – que remete à uma das maiores celebrações do país nos meses de junho e julho; “Dandaras do Brasil” – com referência à guerreira quilombola de Palmares; e “Xica Manicongo” – que homenageia uma das primeiras travestis negras no Brasil.
Além do lema de suas coleções, Isaac tem o compromisso de compartilhar sua verdade com as pessoas que se identificam com seu trabalho e o de sua equipe. Desde quando chegou na Casa de Criadores [evento conhecido no Brasil por lançar grandes nomes do ramo], em 2015, tem buscado intensificar a sua missão e conceitua suas obras com muito cuidado. Por este motivo, conquistou admiração de mulheres referência no Brasil, como Elza Soares, Neon Cunha, Maria Clara Araújo, Djamila Ribeiro, mas também em nível internacional, como Adama Paris, idealizadora do Black Fashion Week em cidades de diversos países.
“Fazer roupa com axé é dialogar com o que é o Brasil de verdade, mostrando a riqueza que tem a cultura afro brasileira”, ressalta em entrevista o jovem de 29 anos, símbolo e inspiração para outros “Isaacs” que possuem o desejo de ocupar essa área ainda tão elitista. Apesar dos resultados e reconhecimento alcançados, o designer de moda revela que ainda busca o aumento do capital de giro do seu negócio “para aumentar o número de produtos e quantidades”.
O estilista baiano nos revela que sonha em ver a contribuição da marca na identidade de moda do Brasil ainda maior daqui para frente, tendo pontos de vendas em todo país. “Busquei estudar, me informar, fazer cursos, trabalhar na área e saber onde posso ter mais acertos do que erros”, enfatiza o também tecnólogo em produção de vestuário. E tendo a confiança de que foi da sua história o aprendizado para estar focado, Isaac aconselha aos e as desbravadores/as: Devemos ter certeza e coragem para dar o primeiro passo. Deve-se arriscar sempre!